Delador disse que o projeto do aeroporto de Parnaíba era pequeno para a Odebrecht: “a gente não vai nem olhar”
- Landim foi citado por dois delatores: Cláudio Melo Filho e José de Carvalho Filho
- Parlamentar era chamado de decrépito, que significaria "que tem muita idade, é muito velho ou usado, arruinado, caduco"
- Piauiense é considerado um dos deputados que mais faz discursos elogiosos a personalidades do país na tribuna da Câmara, muitas vezes com trecho inaudíveis
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DINHEIRO NÃO CONTABILIZADO – CAIXA 2...
...Para o ‘deputado assessor de imprensa’...
Um dos principais executivos do Grupo Odebrecht, Cláudio Melo Filho, delator no âmbito da Operação Lava Jato, informou aos procuradores da República que o deputado Paes Landim ofereceu o aeroporto de Parnaíba para que a construtora do grupo tocasse sua reforma.
O executivo, entretanto, falou que a obra era pequena para os padrões da Odebrecht e que os executivos da construtora não queriam nem ver o projeto.
Na delação, Cláudio Melo Filho fala da tática do deputado pelo Piauí, que se notabilizou ao longo das últimas décadas por discursos elogiosos aos grandes banqueiros, empreiteiros, magistrados de âmbito nacional – é tido por isso como um ‘deputado assessor de imprensa’.
Também destacou o interesse de Landim – que guarda seus discursos mais críticos para desafetos do Piauí – em fazer um livreto, com dinheiro da Câmara dos Deputados, claro, falando do fundador do grupo Odebrecht, assim como havia feito com outras personalidades.
Paes Landim, informa o delator, recebeu R$ 100 mil por fora, não contabilizados.
O próprio deputado foi quem pediu a quantia, segundo o delator.
_O "Decrépito"...
VEJA TODA A DELAÇÃO FEITA POR CLÁUDIO MELO FILHO:________
Delator Cláudio Melo Filho: Com relação ao deputado Paes Landim, o deputado Paes Landim é um deputado que tem 8 mandatos na Câmara, ao que eu me lembre. Oito ou 9. É uma pessoa do estado do Piauí, que sempre fez discursos elogiosos sobre a engenharia brasileira. É uma pessoa que tem relações com a empresa [Odebrecht] desde a década de 80. Chegou inclusive a conversar até comigo que gostaria de publicar um livro que o Congresso Nacional publica, um livrinho pequeno, sobre a história do doutor Norberto [Odebrecht], porque ele já tinha feito isso com alguns outros empresários brasileiros. Mas por problemas de agenda, e outras discussões, às vezes que ele me pediu isso eu não consegui com o doutor Norberto fazer a marcação, acabou que o doutor Norberto faleceu e não houve essa conversa entre os dois. E o deputado sempre me cobrou isso.
Representante do Ministério Público Federal: Certo. E essa solicitação financeira quem foi que fez?
Delator Cláudio Melo Filho: O próprio deputado que nos pediu.
Representante do Ministério Público: Fez ao senhor e o senhor repassou a quem?
Delator Cláudio Melo Filho: Você repassa internamente para a empresa, que há uma expectativa, não é? Quando as pessoas pedem você transmite isso para a equipe do Benedicto Júnior. (...) Ele recebe cada pessoa, informa quem pediu e é feito um estudo.
Representante do Ministério Público: Qual o cargo ocupado pelo Benedicto Júnior?
Delator Cláudio Melo Filho: Ele é presidente da área de infra-estrutura Brasil [da Construtora Odebrecht].
Representante do Ministério Público: E existia algum codinome que o deputado era reconhecido na planilha [da propina]?
Delator Cláudio Melo Filho: Me foi informado que o codinome dele era decrépito. Eu não sei afirmar a razão porque ele tem relação com a empresa desde a década de 80. Então eu efetivamente não saberia informar a razão para isso por nenhum motivo. O valor foi de R$ 100 mil. E vale a pena eu comentar brevemente que ele gostava tanto assim da forma como a Odebrecht trabalhava, e [atuando] elogiosamente à engenharia brasileira, que uma vez ele me perguntou se a Odebrecht não tinha interesse em participar do aeroporto de Parnaíba, da obra que ia ser lá. E eu disse a ele que iria falar com o João Pacífico, que é o diretor superintendente da área, na época. Mas era uma coisa muito pequena para a participação da Odebrecht, então eu agradeci ao deputado e disse: ‘deputado, olha, a gente não vai nem olhar porque é um negócio pequeno para a gente e realmente o Pacífico não se interessou’.
Representante do Ministério Público: Tá. Eu gostaria só de entender porque o pedido de contribuição do deputado Paes Landim foi direcionado para o Benedicto Júnior, porque ele [Paes Landim] é do Piauí não é? Não tem nada a ver com a regionalização aí?
Delator Cláudio Melo Filho: O Benedicto Júnior é presidente da empresa como um todo. Então a regionalização e o Piauí estão dentro da esfera dele.
Representante do Ministério Público: Certo.
Outro Representante do Ministério Público: Quanto a essa solicitação, onde ocorreu o pedido, foi numa reunião, foi no Congresso?
Delator Cláudio Melo Filho: Eu acho que ele foi ao meu escritório.
Outro Representante do Ministério Público: O senhor se lembra quando?
Delator Cláudio Melo Filho: Não porque isso tem muitos anos não é? Mas certamente foi no primeiro semestre do período de 2010. Por que eu digo isso? Porque a gente sempre é procurado no período que precede a eleição, não é? E geralmente no segundo semestre é a eleição. E por determinação de Marcelo Odebrecht a gente só passa a fazer algum tipo de apoio em campanha, caso haja, no final do primeiro semestre do ano eleitoral. Isso é uma determinação geral do Marcelo.
Outro Representante do Ministério Público: Consta aqui na planilha a sigla JCF, responsável pelo repasse. Eu quero que o senhor me diga quem é.
Delator Cláudio Melo Filho: É José Carvalho Filho.
Outro Representante do Ministério Público: Quem é José Carvalho Filho?
Delator Cláudio Melo Filho: É o diretor de Relações Institucionais, aqui de Brasília, que também trabalha na minha equipe.
Outro Representante do Ministério Público: Ele comentou algo a respeito desse repasse de recursos?
Delator Cláudio Melo Filho: Não.
Outro Representante do Ministério Público: Foi repassado?
Delator Cláudio Melo Filho: Certamente sim. Porque se não fosse o próprio deputado falaria comigo.
Outro Representante do Ministério Público: Foi de forma contabilizada?
Delator Cláudio Melo Filho: Não. Esses pagamentos todos que vamos falar nesse anexo, eles são pagamentos feitos que estão inseridos no sistema Drousys [do departamento de propina]. E foi todos eles, que a gente vai relatar neste anexo, pagos pela diretoria de operações estruturadas [departamento de propina], portanto, não contabilizados.
Outro Representante do Ministério Público: Perfeit