A obra da Vila Olímpica de Parnaíba, litoral do Piauí, que foi idealizada em 2008 para servir como centro de treinamento para a Copa do Mundo 2014 e para os Jogos Olímpicos Rio 2016 está, dez anos depois, apenas 35% concluída. O projeto foi totalmente reformulado depois que o Tribunal de Contas da União recomendou a suspensão das obras por questionar a viabilidade técnica e econômico-financeira do projeto.
Inicialmente, a execução da obra ficaria sob responsabilidade da Fundação de Esportes do Piauí com recursos do Governo Federal. Hoje, apenas a Fundespi está à frente da execução e já investiu R$ 3 milhões. Dois projetos foram pensados: um estádio com capacidade para 35 mil torcedores e valor estimado, na época, em R$ 180 milhões. E uma Vila Olímpica que incluía duas piscinas e nove quadras com custo previsto inicialmente de R$ 16 milhões.
As obras da Vila Olímpica começaram efetivamente em 2012 e pararam em 2014, sendo retomadas apenas no início deste ano, segundo a Fundespi. A obra ficou parada para readequação do projeto, após vistoria e recomendações do TCU, que questionou a possibilidade de manutenção e uso efetivo das instalações planejadas.
Já o projeto do estádio foi totalmente descartado e o contrato rescindido em 2015. O valor destinado pelo governo federal, pouco mais de R$ 1,3 milhão, foi devolvido pela Fundespi aos cofres da União em 2015, segundo o TCU.
“Essa obra deveria ter sido repensada em seu planejamento, porque ela realmente foi dimensionada para bem acima do seu território. Para se ter ideia, a população estimada da cidade e da região é de 300 mil habitantes e o projeto continha um estádio com capacidade para 10% da população”, disse o presidente da Fundespi ao G1, Ribamar Filho.
Em valores atuais, segundo o presidente, a obra completa da Vila Olímpica custaria R$ 22 milhões. Com o projeto reformulado, a estimativa é que custe R$ 7 milhões divididos em duas etapas.
A primeira fase está prevista, segundo Ribamar Filho, para ser concluída em 30 de junho deste ano. O valor chega a R$ 3 milhões, sendo R$ 1,9 milhão de origem federal e R$ 1,1 milhão de contrapartida do governo do estado do Piauí. Foram excluídas do projeto uma piscina olímpica e uma piscina de salto.
“O TCU bateu em cima, porque ia sair muito caro e ia ter uma manutenção cara. Não tivemos como comprovar a funcionalidade dessas piscinas. Tentamos ainda uma parceria com a Universidade Federal do Piauí, mas eles não tiveram orçamento comprovado para manter a obra”, declarou.
Após a conclusão da primeira fase, os custos mensais estão orçados em R$ 15 mil para o atendimento de até 400 pessoas por mês. A previsão, de acordo com o presidente, é disponibilizar para a população até 30 junho nove quadras esportivas para a prática de vôlei, vôlei de praia, futsal, basquete, tênis, futevôlei e artes marciais. Inicialmente, a própria Fundespi informou que vai disponibilizar seis funcionários, entre seguranças e monitores das modalidades esportivas.
“Para a segunda etapa, com valor previsto de R$ 4 milhões, queremos entregar para a população um ginásio com capacidade para 1,5 mil pessoas, estacionamento, pista de atletismo e espaço para a prática de skate. Estamos finalizando esse projeto, que deve ter licitação lançada no segundo semestre desse ano e prazo de execução de 12 meses”, disse o presidente.
Com todas as readequações, o presidente avaliou que a melhor solução foi, de fato, o projeto não ter sido executado como o previsto inicialmente. “Parnaíba não tem tradição de futebol. Quando a cidade tem um jogo de destaque reúne 2 mil pessoas. Se tivesse sido feito como planejado, seria mais um 'elefante branco'. O custo em valores atuais chegaria a R$ 300 milhões, não teria sentido. Aquela ideia de Copa do Mundo deu no que deu nacionalmente. Não tem quem queira administrar os estádios. Realmente teria sido um problema maior se tivesse sido feito”, disse.
Atualmente, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual apuram a situação da obra. Em nota, o MPF informou ao G1 que ainda aguarda informações sobre a prestação de contas do projeto e que não pode informar detalhes do caso.
Leia a íntegra da nota:
Existe um inquérito civil tramitando da Procuradoria da República no Município de Parnaíba, sob a responsabilidade atualmente do procurador da República Saulo Linhares da Rocha. Esse inquérito está em fase de análise de documentação requisitada pelo procurador da República ao Tribunal de Contas da União, ao Ministério dos Esportes, à Caixa Econômica Federal, à Fundação dos Esportes do Piauí, à Procuradoria-Geral do Estado do Piauí e à Prefeitura de Parnaíba. Como os fatos ainda estão em apuração, o procurador não se manifestará nesse momento.
Já o MPE informou ao G1 que enviou ofício ao TCE em abril deste ano solicitando informações sobre a prestação de contas da obra. Segundo o MPE, ainda não houve resposta e o TCE está no prazo para enviar as informações. Somente com os dados, o MPE decidirá sobre quais providências serão necessárias. Procurado, o TCE ainda não se pronunciou sobre o assunto.
fonte: g1 piaui