Michel Temer, ontem, em visita à fábrica da FIAT: aposta na recuperação da economia para crescer em popularidade
Quando a coluna tratou a primeira vez da possibilidade de uma candidatura Michel Temer, dia 28 de janeiro, parecia um disparate, uma informação fora de lugar. O próprio texto observava que a ideia “pode parecer brincadeira”, mas que era sim levada a sério pelo entorno do presidente. O tempo mostra que a informação não era um balão de ensaio. E agora o presidente confirma a intenção de disputar as eleições de outubro, para tentar ser o substituto de si mesmo.
Em entrevista à revista IstoÉ, edição que está nas bancas, Temer é bem claro: “Acho que seria uma covardia não ser candidato. Porque, afinal, se eu tivesse feito um governo destrutivo para o país eu mesmo refletiria que não dá para continuar”. E traz de volta a história da defesa do legado: “Eu recuperei um país que estava quebrado. Literalmente quebrado. Eu me orgulho do que fiz. E eu preciso mostrar o que está sendo feito”, destacou.
A informação inicial, há cerca de dois meses, de que o presidente pretendia mesmo ser candidato ganhou cores mais fortes em meados de fevereiro, quando decidiu intervir na segurança do Rio de Janeiro. Aqui mesmo surgiu o questionamento óbvio: a intervenção era pra valer ou só marketing? A pergunta partia do evidente esvaziamento do discurso reformista, especialmente após o naufrágio da reforma da Previdência. O tema da segurança substituiria o assunto das reformas, e com a vantagem de ter mais apelo popular.
O cálculo do entorno do presidente é que a campanha está nivelada por baixo, todos os candidatos até agora colocados apresentando altos índices de rejeição. Como se disse antes, é a eleição dos rejeitados, que pode tornar viável um concorrente que alcance uma votação que nem precisa ser espetacular. Por isso esta tende a ser a eleição dos 15%: o candidato que ultrapassar esse patamar na intenção de voto entra no rol dos eleitoralmente viáveis.
Temer entra na disputa sabendo que tem alguns trunfos. Primeiro, o MDB – um partido grande, com importante participação no Fundo Eleitoral e generosa fatia no horário da propaganda no rádio e TV. Nesse quesito, Temer já parte na frente – e pode contar com um grande tempo se sua candidatura conseguir apoio de siglas donas de outras fatias generosas do horário eleitoral, como DEM e PSD.
Pois Temer resolveu correr atrás dos 15%, e conta com a força do governo – tanto para atrair aliados fortes como para fazer propaganda aos montes até junho, o limite estabelecido pela legislação eleitoral. São recursos à mão do presidente. Mas Temer espera contar com algo menos palpável, até agora: as respostas às ações de sua própria gestão.
Ele vislumbra uma reação mais forte da economia brasileira, em especial o aumento da geração de emprego. Por isso mesmo esteve ontem em Pernambuco, onde a FIAT está ampliando a contratação de pessoal – para dar conta do aumento das vendas. Temer também espera contar com resultados mais consistentes das ações na área de segurança pública.
Esses resultados (pelo menos ainda...) não são sentidos pelo cidadão – que também é eleitor. Mas Temer segue um homem de fé e acredita que conseguirá reverter os altos índices de impopularidade de seu governo e de rejeição pessoal. Dentro dessa crença, vai tentar se viabilizar candidato.
Se vai conseguir, é outra história.
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