“Vai dormir senão não cresces!”…alguém já ouviu essa frase quando criança? Muitas pessoas de gerações passadas costumavam ouvir isso, mas sempre pensando que essa fosse uma maneira intimadora para que as crianças deitassem e acordassem cedo sem reclamações.
Acontece que o tal “dormir cedo”, de facto, faz muita diferença no crescimento e desenvolvimento delas, segundo o psiquiatra pediátrico, Dr. José Ferreira Belisário Filho.
Os nossos hábitos mudaram, e ir para a cama antes das 21 horas não é uma realidade muito comum. Acontece que isso tem influenciado directamente o futuro dos meninos, que estão ficando mais baixas, mais desatentas, mais ansiosas e com diferentes transtornos, enchendo os consultórios.
É possível mudar esses hábitos?
As mães também sofrem com essa pressão social. Se elas se ausentam um pouco mais cedo de algum programa social para colocar a prole na cama, elas ouvem: “mas ela já vais dormir? E quando o telefone toca em casa às 21:30 hrs e elas atendem num tom mais baixo, porque a casa está adormecendo – “oh povo que dorme cedo nessa casa!”Tudo isso acaba por gerar estranheza!
Mas, para mudar os hábitos de sono de uma criança, é importante mudar os hábitos da família. A criança não vai aceitar dormir cedo se perceber toda a casa funcionando, luzes acesas, TV ligada, e só ela tendo que se deitar. Portanto, a orientação do psiquiatra, nesses casos, é uma só: ler estórias, preparar o ambiente e desligar as luzes da casa. Sim, todas as luzes.
E a mudança de hábitos passa até mesmo pelo projecto de iluminação das casas e apartamentos, especialmente nas salas e nos quartos. Nada de luzes brancas, por favor! Uma casa precisa de luzes amarelas, que relaxam e auxiliam na chegada do sono. Segundo o Dr. Belisário, a luz branca emite uma onda azul que actua directamente nas mitocondrias da nossa retina, inibindo a hormona do sono, a melatonina.
Crianças tem dormido mais tarde a cada dia que passa
E é a mesma luz que sai dos aparelhos electrónicos. Celular e IPad antes de dormir, nas palavras do psiquiatra, é uma desgraça. Isso inclui também os pais. O whatsapp, que não pára de funcionar até mesmo de madrugada, é um grande vilão, despertando as pessoas. Ainda que você durma depois de ler uma mensagem, certamente você dormiria melhor se não tivesse lido. Acordar de madrugada e “dar uma checada” só prejudica o sono que deveria vir depois.
As crianças precisam dormir cedo por um simples motivo: a hormona do crescimento age sempre às 00:30 hrs em quase todas as pessoas. Mas actua no quarto estágio do sono.
Dessa forma, se a criança vai para a cama às 22 hrs, 23 hrs, a hormona terá muito menos tempo de actuação, prejudicando o seu crescimento.
Observando imagens do cérebro de uma criança que dormiu cedo e de outra que dormiu tarde, antes de uma prova de matemática, percebe-se que na primeira há várias áreas destacadas em actividade, enquanto na outra, há só uma pequena parte. Possivelmente, aquela que dormiu mal vai-se lembrar menos do que estudou do que a outra criança.
Aqueles meninos e meninas que adquirirem um hábito de sono desde cedo, vão se tornar adultos com menos propensão de ter outras doenças, como o Alzheimer, que tem afectado um número cada vez maior de pessoas. Segundo o psiquiatra, apenas duas coisas realmente retardam essa doença: exercícios físicos e sono. Quanto mais, melhor.
Uma das boas coisas que os pais podem fazer pelos filhos é colocá-los para praticar desporto desde cedo. “Crianças que fazem exercício antes de dormir, dorme muito melhor”, afirma o psiquiatra.
O Dr. Belisário também alerta sobre a quantidade de prescrição deritalina, e que isso está directamente ligada à má qualidade de sono.
Os pais devem realmente pensar em estratégias para melhorar a qualidade do sono de toda a família. Trocar as lâmpadas, incentivar os desportos, assumir ainda mais a família como sua mais importante tarefa. Os pais trabalham como loucos e esquecem que não estão numa corrida, mas sim com uma missão: fazer de sua casa o melhor lugar para se viver.
Fazer da sua família um ninho de cuidado que permita que crianças felizes tornem-se adultos seguros, realizados e saudáveis – física e psicologicamente.