terça-feira, 22 de agosto de 2017

Jerry Lewis: a morte do rei da comédia

Em 1983, o ator e comediante Jerry Lewis estreou o filme O rei da comédia, digirido por Martin Scorsese. O nome do filme acabou caindo como uma luva para descrevê-lo, porque Lewis se destacava na arte de fazer rir desde meados da década de 1940. Desde então, o comediante atendeu pelo vocativo tão certeiro em todos os lugares por onde passou. Neste domingo (20), o riso escrachado se calou com a morte de Jerry Lewis, em sua casa, em Nevada, aos 91 anos.
O ator e comediante Jerry Lewis marcou a arte de fazer rir nos Estados Unidos do século XX (Foto: Hulton Archive/Getty Images)
Lewis nasceu Joseph Levitch em março de 1946, em Newark, no estado de Nova Jersey, numa família de artistas. Seus pais, Danny e Rae Levitch, ganhavam a vida se apresentando em pequenos hotéis e alguns resorts – ele como cantor e dançarino, ela como pianista. O casal, que usava o nome artístico Lewis, precisava deixar Joey (como Jerry era chamado entre familiares) aos cuidados de parentes frequentemente. A experiência de ser levado de casa em casa afetaria Lewis de forma drástica, alimentando uma insegurança fortíssima que deu origem a uma necessidade desesperada de atenção e afeto.
A busca por reconhecimento se concretizou na forma da arte. Aos 16 anos, Joey abandonou os estudos e passou a procurar emprego, adotando o nome Jerry para evitar ser confundido com outro comediante chamado Joe E. Lewis. Ele passou a se apresentar em cinemas de Nova Jersey, entre as exibições dos filmes, e logo passou para outros estabelecimentos e clubes noturnos.
Conheceu a cantora Patti Palmer, sua primeira esposa, com quem teve seis filhos, em 1944. No ano seguinte, enquanto se apresentava num clube noturno em Manhattan, Lewis conheceu Dean Martin, um cantor promissor de Ohio que parecia ser tudo o que Lewis não era: bonito, seguro de si e descolado. Lewis ficou deslumbrado. Depois de esbarrarem repetidas vezes, eles começaram a improvisar apresentações juntos. A recepção foi tão boa que rendeu uma nota elogiosa na revista Billboard. O sucesso da dupla se deve, além do talento, a dois momentos históricos marcantes e específicos. Após anos de guerra, o riso fácil e a piada foram muito bem-vindos para o público americano. Por outro lado, os meios de comunicação de massa passaram a dar espaço para um novo tipo de celebridade instantânea. Ambos foram favorecidos pelo cenário.
A partir daí, Lewis passou a estrelar inúmeras apresentações em clubes noturnos, na televisão e no cinema. Ao longo de cinco décadas, ele estrelaria mais de 50 filmes. Na década de 1960, estrelou o longa-metragem mais famoso de sua carreira, O professor aloprado, que conta a história do atrapalhado professor universitário Julius Kelp. Após ser humilhado pelos alunos e quase demitido por suas trapalhadas, Kelp cria uma fórmula que o torna elegante, charmoso e bom de papo. Nasce então uma nova persona: Buddy Lee. O filme, protagonizado e produzido por ele, subverte o clássico de terror O médico e o monstro – além de lembrar muito a relação entre Martin e Lewis. Sucesso de crítica e público, é considerado seu melhor trabalho. A história ganhou uma nova versão em 1996, com Eddie Murphy no papel principal.
Seu último filme, lançado no ano passado, foi A sacada, em que faz um papel secundário. O último longa-metragem que protagonizou foi Max Rose, de 2013. No mesmo ano, participou do filme brasileiro Até que a sorte nos separe 2, com Leandro Hassum.
Embora tenha mantido uma aparência eternamente juvenil durante anos, Lewis sofreu uma série de doenças graves ao longo da vida, incluindo câncer de próstata, fibrose pulmonar e dois ataques cardíacos. Os medicamentos fizeram com que seu peso variasse de forma alarmante, embora ele tenha se recuperado o suficiente para continuar trabalhando ao vivo nas últimas décadas. Ainda em 2016, ele se apresentava em shows solo.
Lewis sabia fazer rir, mas também acabou fazendo algumas bocas se contrair em desaprovação. Declarações homofóbicas o colocaram em maus lençóis com a comunidade gay. As mulheres também foram vítimas de comentários ofensivos. Em 2000, Lewis afirmou que não gostava de comediantes do sexo feminino e só pensava nelas como "máquinas de produzir bebês".
O comediante e cineasta foi adorado por muitos, e desprezado por outros. É inegável, porém, a importância de sua figura para o entretenimento no século XX. 
Confira cinco filmes essenciais para celebrar o talento de Jerry Lewis:

A canoa furou – 1959
Dean Martin e Lewis encontraram sucesso no início da carreira em comédias militares, porque ambos pareciam soldados improváveis. Ao seguir carreira solo, Lewis vestiu o uniforme algumas outras vezes. Em melhor trabalho desse gênero, Lewis é um marinheiro que explica por meio de flashbacks como ele perdeu um navio de guerra do tipo contratorpedeiro (mais conhecido no termo em inglês: destroyer).

O terror das mulheres – 1961
Segundo filme dirigido por Lewis, esse filme tem grande influência dos anos em que trabalhou com o diretor Frank Tashlin. Lewis é um homem desajeitado que trabalha num pensionato feminino. Destaque para uma cena engraçadíssima envolvendo um bandido e um chapéu.

O professor aloprado – 1963
Pessoal, o filme trata tanto de suas experiências de showbiz quanto de um cientista louco. Paródia de filmes de terror e ficção científica, o filme mostra um professor universitário totalmente fora dos padrões de beleza e de destreza social que desenvolve uma fórmula para tornar-se bonitão e atraente.

O bagunceiro arrumadinho – 1964
Lewis vive um estudante de medicina hipocondríaco, que pega turnos em um sanatório para ajudar sua amada deprimida. O filme traz mais toques de romance do que o usual para os filmes de Lewis, e o diretor Frank Tashlin (esta foi a última colaboração entre os dois) insere algumas montagens caricatas, como uma cena com vento forte que termina com um esqueleto pendurado do lado de fora de uma aula de anatomia.

O rei da comédia – 1983
Lewis retorna do ostracismo ao estrelar o pungente filme de Scorsese ao lado de Robert De Niro. Um apresentador de talk show (Lewis) é sequestrado por um fã pouco convencional e um tanto assustador (De Niro). Entre as mudanças de humor que vão da tranquilidade à ansiedade profunda, surge uma mensagem de autoconhecimento surpreendente.

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